3 de fevereiro de 2016

Editorial: Avanços em risco


02 de fevereiro de 2016
"Sem crescimento econômico, não há recursos para a Educação", afirma jornal

Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)



Em 2014, 93,6% das crianças e adolescentes brasileiros estavam matriculados em Escolas do Ensino básico – ante 89,5% em 2005. Em números absolutos, isso significa que 5 milhões de brasileiros com idade entre 4 e 17 anos estavam sem estudar em 2005. No ano passado, eram 2,7 milhões – uma queda de 44,9%. Apesar desse avanço, o Ensino básico está longe de superar seus gargalos, como mostram as taxas de evasão Escolar, os índices de reprovação e os níveis de aproveitamento medidos por mecanismos nacionais e internacionais de avaliação. Essa é a conclusão de um estudo elaborado pelo Movimento Todos Pela Educação, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Segundo o estudo, o maior salto nas matrículas do Ensino básico ocorreu na faixa etária de 4 e 5 anos, na qual o acesso à Pré-Escola passou de 72,5% para 89,1%, entre 2005 e 2014. O aumento se concentrou basicamente nos estratos sociais mais vulneráveis: entre os 25% mais pobres, em comparação com os 25% mais ricos; na zona rural, em comparação com as áreas urbanas; e entre negros e pardos, em comparação com brancos; e na Região Norte, em relação às demais regiões do País.
Esse avanço é creditado a três fatores. Em primeiro lugar, à medida que se conscientizam da importância da Educação para o futuro de seus filhos, os pais tendem a antecipar a matrícula nas Escolas. Em 2006, a Educação era a 7.ª prioridade das famílias – em 2014, já era a segunda prioridade, informa o estudo. Além disso, os municípios estão profissionalizando a gestão de suas redes Escolares, o que resulta na ampliação da oferta de matrículas nas primeiras séries do Ensino básico. Por fim, os recursos destinados a políticas sociais, como o Bolsa Família, estão ajudando a reduzir o trabalho infantil, permitindo que crianças que estariam trabalhando possam estudar.
“Crianças que frequentam uma Educação infantil de qualidade têm um percurso Escolar com mais aprendizagem e uma vida adulta com muito mais oportunidades. Investir nas crianças é a melhor estratégia para superarmos a desigualdade social, que ainda é muito alta e persistente. As crianças e os jovens mais vulneráveis são os que menos frequentam a Escola. Portanto, são aqueles que mais dependem da Educação para romper o ciclo de exclusão e pobreza”, diz a presidente do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz.
Já entre os gargalos da educação básica, o maior está nas três séries do Ensino médio, que permanecem com um currículo excessivamente acadêmico, do ponto de vista formativo, e inteiramente desconectado da realidade do mercado de trabalho. Por isso, o Ensino mé- dio é pouco atraente para os jovens, o que faz com que as taxas de evasão sejam altas – 9,5% na primeira série, 7,1% na segunda e 5,2% na última. “Desmotivado, o jovem não vê sentido na Escola. Há uma discussão em andamento sobre a reformulação do Ensino médio, a criação de Escolas mais voltadas para a área de humanas, outras para a área de ciências naturais. É um Ensino médio mais vocacionado, em que o Aluno poderá trabalhar por projetos e ter metas de aprendizagem, em vez de ter disciplinas estanques, que não dialogam entre si”, afirma Priscila Cruz.
Uma das preocupações do estudo é o impacto da crise econômica no Ensino. Seus autores lembram que os cortes de gastos públicos poderão retardar a velocidade dos avanços obtidos nos últimos anos e atrasar ainda mais a implementação de medidas destinadas a remover os gargalos do Ensino básico. “Pode-se até melhorar a gestão do sistema Escolar, mas é preciso construir Escolas, contratar Professores e comprar material. A falta de recursos tem reflexo direto nisso”, adverte a presidente do Todos Pela Educação. Esse é o círculo vicioso em que nos encontramos. Sem crescimento econômico, não há recursos para a Educação. Mas destravar a economia, para que ela volte a crescer, criando empregos e reduzindo as desigualdades sociais, exige formação de capital humano – que só investimentos em Educação podem propiciar.

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