28 de outubro de 2016

Escola sem ideias?, Claudia Costin


Alex Sander Magdyel/Agencia RBS
Representantes de movimentos estudantis se posicionam contra o que chamam de "Lei da Mordaça" Foto: Alex Sander Magdyel / Agencia RBS *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Representantes de movimentos estudantis protestam contra o projeto Escola Sem Partido
Tenho acompanhado com certa apreensão as discussões sobre um projeto de lei que propõe uma . Preocupam-me sempre medidas que buscam censurar a prática docente e eu, com certeza, posiciono-me contra essa iniciativa.


Proibir o professor de ensinar colocando-se inteiro no processo, com suas convicções e crenças, não é só eticamente errado, é ingênuo supor que seja possível.
Aproveito, no entanto, o inevitável debate para trazer uma reflexão. Afora o clima polarizado que precedeu o impeachment e se manteve depois dele, a relativa adesão que encontrou o projeto de lei deveria nos fazer pensar.
Os proponentes do projeto atiraram numa coisa e acertaram em outra: de fato, as escolas estão formando cidadãos críticos e autônomos em suas ideias? As aulas levam os alunos a adotar mecanicamente as visões de mundo dos mestres ou a formular seus próprios juízos acerca do que está sendo discutido?
Minha mãe estudou na Hungria no começo dos anos 1940 e contava como um de seus professores relatava, como verdade histórica, que os generais da Romênia, país vizinho, usavam calções de mulheres sob seus uniformes. A transmissão de preconceitos na escola não começou agora e é própria de uma escola que não ensina a pensar.
John Dewey defendia que é papel da escola educar para o pensar, ensinar as crianças a raciocinar, e não a receber formulações acabadas. Ora, um professor que apresenta sua visão de mundo como a verdade única não está educando, estará, isso sim, ajudando a criar um seguidor de líderes geniais das massas. Certamente não é isso que queremos.
A escola deve ser um espaço em que ideias circulam, hipóteses são debatidas, seja sob as lentes da ciência ou sob a análise das possibilidades.
Em matemática, mais importante que apresentar um algoritmo e depois 40 exercícios de aplicação, deve-se ensinar a raciocinar matematicamente. Em história, não basta transmitir a sequência dos eventos e dar-lhes um nexo lógico baseado na visão do mestre ou do livro. É importante apresentar os problemas que desafiam o mundo e ouvir os alunos a respeito.
Não há possibilidade de aprender a pensar se a "verdade", seja a do professor, seja a do livro didático, for apresentada antes de perguntas ou problemas que evocam esse aprendizado serem discutidos. E isso cabe, sim, à escola fazer.
Como afirma excelente reportagem da revista "Nova Escola" sobre o projeto de lei, mais do que criar leis contra a doutrinação, a melhor saída para o ensino é colocar na mesa diferentes visões e ensinar a pensar e a debater. Sem ideias e debate não há educação nem democracia. 

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