27 de maio de 2017

PROFESSORES INSPIRADORES


Eles fazem da aula um acontecimento

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Luiz Antonio Jarcovis, 64, professor aposentado de ciências, foi cercado por ex-alunos, que pulavam para abraçá-lo, quando chegou à Escola Estadual Almirante Custódio José de Mello, na zona leste de São Paulo, no dia 15 de maio. Seu último dia de aula ali foi 24 de fevereiro.
“Foi sofrido, em toda sala que entrava, eu pensava que seria a última vez”, diz. Ao sair da última aula, foi surpreendido por um “corredor de aplausos” dos alunos. “Depois de 30 anos lecionando, suspeitava que eu era um pouco querido, mas não imaginava tanto”, conta ele.
Filho de agricultores que nunca frequentaram escola, sempre quis ser professor. “Tinha essa fantasia de ensinar os alunos como se fossem meus filhos, não só no conteúdo, mas para escutar o que tinham a dizer.” Fez isso com os cerca de 12 mil alunos que passaram por suas aulas na rede estadual e na municipal.
José Araújo, professor da Escola Estadual Mauro de Oliveira, em sua casa, em São Paulo (Keiny Andrade/Folhapress)
“Professor, você é gay? Coxinha? Mortadela?” O adolescente que tentar provocar o professor de história José Araújo, 36, vai se dar bem.
“Uso a provocação como mote para fazer os alunos pensarem e até para explicar um episódio histórico”, conta Araújo, que já usou uma pergunta sobre as três listras de sua jaqueta (“É Adidas?”) para falar sobre a estratificação social na Idade Média.
Professor há dez anos na rede pública, Araújo dá aulas para o ensino médio na Escola Estadual Mauro de Oliveira, na Vila Anglo Brasileira, zona oeste de São Paulo.
Seu desafio não é manter a disciplina, mas vencer a apatia. “A estratégia é vasculhar o ambiente dos adolescentes, os games, as músicas.” A partir daí, cria projetos ligados nos interesses dos alunos, como a oficina de mangá que resultou em versões de clássicos da literatura.
Ivonilton de Barros Fonseca e seus alunos na Escola Municipal André Urani, no Rio
Ivonilton de Barros Fonseca, 52, usa celular na sala de aula (para pesquisas), tem um grupo de WhatsApp com os alunos para resolver dúvidas e ensina crianças de 12 anos a criar e interpretar gráficos em que avaliam seu desempenho escolar.
“Busco fazer algo além de apenas inovar. Tento renovar processos com a metodologia que temos, que é tradicional”, diz o professor de ciências da Escola Municipal André Urani, a única para alunos de 12 a 15 anos na comunidade da Rocinha, no Rio.
Técnico em agropecuária, Fonseca começou a dar aulas em 1984, num projeto de educação ambiental. Gostou da ideia de usar a pedagogia para construir uma vida melhor e embarcou no magistério.
Na André Urani, escola experimental, é chamado de professor inventador. “Junto da melhor forma que posso a tecnologia e as questões emocionais, mais complexas, para esses meninos resolverem como terem liberdade e segurança. A escola é a zona de conflito para resolver isso da melhor forma.”.
Mariluci Jakutis e alunos na sala de leitura da Escola Municipal Campos Salles (SP)
Ela é funcionária e bailarina. Mariluci Lopes Jakutis, 45, professora da Escola Municipal Campos Salles, em Heliópolis, zona sul de São Paulo, dá aula na rede estadual, municipal e privada.
Professora de educação física, desenvolve na Campos Salles, ao lado da maior favela da cidade, projetos de dança e literatura. O balé começou há seis anos. “No início a sala não tinha barra nem espelho e era pequena demais para o número de inscritos”, diz ela, que hoje conta com espaço para todos.
Quando não está na sala de balé, Jakutis pode ser encontrada na Academia Estudantil de Letras da escola.
“Funciona como uma Academia de Letras. Os alunos fundam as cadeiras com o autor que escolhem para representar e aprendem literatura. Eles se envolvem tanto que conversam sobre literatura a qualquer qualquer hora.”
A professora da rede pública Joana Cabral, 41 (Raquel Cunha/Folhapress)
Formada em teatro, Joana Cabral, 41, começou a carreira dividindo o tempo de palco com aulas para grupos amadores em instituições como o Sesc. “Fui tomando gosto. Digo que foi a docência que me escolheu”, afirma.
Em 2002, já com licenciatura, começou a lecionar em escolas particulares e, há cinco anos, entrou também para a rede pública.
“É um desafio bacana. O teatro é a grande ferramenta para transformar a realidade social”, diz.
A escola pública em que trabalha atualmente fica em uma zona perigosa. “Como a criança pode chegar concentrada à aula se veio fugindo de tiro? Não estou exagerando, muitos dias tenho medo de ir trabalhar, mas me sinto responsável por trazer essa luzinha no fim do túnel que é o teatro.”
Cabral batalha para que alunos, pais e educadores entendam a importância da aula de artes. “Não é recreação, é sério.”
Por meio do teatro, ela tenta desenvolver a autoestima, o autoconhecimento, a disciplina e a concentração dos alunos. “Já escutei de professores que é mais fácil manter a criança concentrada depois das aulas de teatro”, afirma.
Cabral também usa a arte para desenvolver projetos como a fotonovela criada por alunos de escola pública, que resultou no lançamento de 300 exemplares e em três curta-metragens.
Na rede particular, a professora dá aulas para a oitava série e em uma creche, na qual usa ferramentas teatrais para colocar bebês e crianças pequenas em contato com a literatura.

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