27 de maio de 2017

Salário é uma das chaves para reverter o desprestígio da carreira

VALORIZAÇÃO

PAULO SALDAÑA
DE SÃO PAULO, 26/5/2017. Folha de S.Paulo
A equação é a seguinte: dois amigos formam-se em matemática na mesma faculdade. Um vira professor da rede pública e o outro vai para outra área, como tecnologia ou pesquisa. Qual deles receberá o maior salário?
O conhecido desprestígio da carreira pode dar uma dica da resposta, mas os dados deixam a situação clara: os 2 milhões de professores da educação básica ganham, na média, o equivalente a pouco mais da metade (52,5%) do salário do restante dos outros profissionais com diploma.
Um professor da rede pública, com diploma do ensino superior, recebe na média R$ 3.846,40. Outros graduados têm ganhos de R$ 7.325,10.
A realidade varia por região, cidade e área de atuação. A diferença é maior no caso hipotético do início do texto, envolvendo formação em exatas. Professores recebiam em 2015 um terço do salário médio de profissionais de mesma formação, mas que trabalham fora da escola.
Os dados, tabulados pelo Movimento Todos pela Educação, referem-se à rede pública. Mais de 80% dos alunos da educação básica no país estão em escola pública.
Os reflexos são desanimadores. Salários e condições de trabalho ruins têm atraindo menos jovens para licenciaturas. E esses interessados não são os mais talentosos do ensino médio -o que alimenta um ciclo difícil de romper, mesmo que houvesse boa formação inicial e continuada.
O diagnóstico em todos os países com sucesso na educação apontam para a importância do professor. Bem formado e valorizado, diga-se.


Para Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação, é impossível pensar os desafios da formação do professor sem falar em salário, carreira e condições de trabalho. “O Brasil precisa de uma abordagem sistêmica. Nenhum país que deu certo olhou só para formação, você vai ver um esforço de atração para a carreira”, diz ela.
Nossos docentes ganham menos da metade da média de países da OCDE (entidade que reúne países desenvolvidos). Ficamos abaixo de Chile, Colômbia e México.
O tema desafia governos. Os gastos com salário de professores representam a parcela mais expressiva de todos os custos de Estados e municípios. Reajustes podem provocar impactos enormes nas contas públicas.
“Mas só aumentar salários não vai resolver o problema de aprendizagem, temos problemas prévios”, diz o economista Naercio Menezes, professor da USP e do Insper. Ele ressalta que outros aspectos -assiduidade dos professores na escola, metas de desempenho, boa formação inicial– precisam ser analisados. A realidade de escassez, diz, reforça a urgência de se olhar para a gestão.
“Vivemos uma mudança demográfica, vamos precisar cada vez menos de professores nos anos iniciais. É possível ser mais rigoroso com a qualidade e aumentar o salário desses profissionais sem precisar aumentar o gasto com a folha de pagamento.”
Desde 2009, a Lei do Piso reajusta o valor mínimo que um docente deve ganhar. O piso chegou a R$ 2.298,80 neste ano.
A lei colabora para alta dos ganhos pelo país, mas ao menos 14 das 27 redes estaduais não pagam o mínimo, segundo estudo da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.
Uma das metas do Plano Nacional de Educação é a equiparação, até 2020, dos salários dos docentes à média dos outros profissionais com diploma. Outra é que a União aumente seu protagonismo no financiamento à educação. Mas os mecanismos para isso não saíram do papel. Enquanto isso, a conta fica mais difícil de fechar.

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