15 de maio de 2017

Se fôssemos espertos, Ruy Castro


Associated Press
Estudantes se preparam para exames no Japão

 
RIO DE JANEIRO - Comecei a suspeitar de algo errado com a educação no Brasil quando uma de minhas filhas, matriculada num colégio "experimental" do Rio em fins dos anos 70, chegou aos oito anos sem ser alfabetizada. Em troca, subia e descia de árvores com uma destreza de Jane do Tarzan. Seu colégio dava grande importância a essa disciplina e, não por acaso, o pátio parecia uma miniatura da Mata Atlântica.
Desde então, nosso sistema de ensino vem procurando novas fórmulas com as quais preparar os garotos. Uma delas propôs –e conseguiu– extinguir do currículo o latim, talvez por ele não figurar entre as línguas oficiais da Disney World. Outra postulou o desaparecimento da geografia, sob a alegação de que era inútil saber, digamos, os afluentes do rio Amazonas –para que decorar a resposta a uma pergunta que jamais lhes seria feita?
Mas isso foi então. Nos últimos 15 anos, voltamos aos conteúdos, só que para tentar inverter o polo da história –diminuindo a presença do opressor europeu e enfatizando a dos nossos indígenas e africanos. Com isso, menos Estácio de Sá e d. Pedro 1º, por exemplo, e mais Zumbi dos Palmares e o cacique Araribóia. Muito justo –mas o que faremos com o Aleijadinho, Chiquinha Gonzaga, Machado de Assis, Lima Barreto, Di Cavalcanti, Mario de Andrade, Elizeth Cardoso, Ademir da Guia, Taís Araújo e a torcida do Flamengo, todos com algum branco descascado na composição?
Enquanto no Brasil discutimos ideologia, Portugal há anos começou a privilegiar o ensino de português e matemática em suas escolas. Sem ler ou escrever direito, ninguém chegará à história e à filosofia. E sem uma forte base matemática, ninguém dará para a saída no mundo cibernético. Os portugueses começam a colher os frutos dessa política.
Se fôssemos espertos, já os estaríamos copiando. 

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