12 de setembro de 2017

PM faz 2 anos na USP com promessas não cumpridas e sem reduzir roubos


Marlene Bergamo/Folhapress
COTIDANO - No dia 09/09 a PM completa dois anos de presença na USP. Apesar disso, o numero de furtos e roubos nao caíram e alunos ainda se sentem inseguros no campus que durante a noite fica praticamente deserto. Algumas alunas no CRUSP costumam andar em grupos para se proteger. 04/09/2017 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017 -
Policiais militares fazem ronda noturna na Cidade Universitária

No primeiro semestre deste ano, foram 39 roubos e 163 furtos no campus do Butantã, na zona oeste, segundo a PM. No mesmo período de 2015, antes do início do policiamento, foram 39 roubos e 162 furtos. Por outro lado, os furtos 






de veículos caíram de 21 para 11, e o registro de estupros passou de três para nenhum.
Dois anos após a entrada da Polícia Militar na USP, além de uma série de promessas não cumpridas, os números de roubos e furtos dentro da Cidade Universitária seguem praticamente iguais aos registrados antes do início do policiamento comunitário, em 9 de setembro de 2015.
O policiamento comunitário, inspirado em um modelo japonês chamado koban, enfrentou resistência de alunos desde o início –o projeto foi acelerado após um

estudante ser baleado no campus em setembro de 2015.
Pactuada entre a USP e a Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB), a proposta era manter os policiais fixos na universidade, para que pudessem se aproximar da comunidade acadêmica e atuar de forma preventiva. No entanto, muitas das promessas do modelo comunitário não foram cumpridas.
Para o tenente responsável pelo comando, Ricardo Luis Telles, os números indicam que a atuação da PM foi positiva. "Mostra que o nosso trabalho foi eficiente, porque os índices na capital inteira aumentaram e, na universidade, se mantiveram."
DIVISÃO
Alunos e professores da USP ouvidos pela reportagem se dividem sobre os resultados da presença da PM.
As estudantes de Letras Michelle, 22, Nicole, 23, e Cecília, 24, evitam andar sozinhas à noite –o curso delas acaba por volta de 22h30. "Está igual com a PM. Não me sinto mais segura, me sinto mais intimidada", diz Cecília.
As estudantes contam que já presenciaram mais de uma abordagem violenta da PM no campus. "Eu fiquei chocada. Fizeram um cara de moto agachar no chão. Em outro caso, quatro policiais saíram da viatura gritando. É muito agressivo", conta Michelle.
As estudantes não quiseram ser identificadas pelo nome completo por medo de perderem bolsas de estudo ou vaga no alojamento estudantil. "Dá medo, tem ruas escuras e desertas", diz Nicole.
Já para a aluna de pós-graduação em veterinária Raquel Gonçalves, 32, a presença da PM tem efeito positivo. "Pego ônibus em outro ponto, porque assim posso esperar perto da guarita da polícia."
O professor de economia Nuno Fouto, 56, também vê a região mais segura. "Esse é um tema que envolve muita ideologia, mas tenho a sensação de que melhorou", diz.
Para o aluno de cursinho de pré-vestibular Luan Ferreira, 18, que frequenta o campus, o efetivo tinha que ser maior. "Quase não vejo viaturas. A PM dá uma tranquilidade, mas, mesmo assim, o campus é perigoso."
Hoje, 44 PMs, divididos em turnos, fazem rondas 24 horas e estão alocados em duas bases, no Portão 3 e na praça do Relógio, dentro do campus. Há também 68 guardas universitários, esses contratados pela USP. Ainda assim, o hábito de andar em grupos à noite, como medida de proteção, é muito disseminado.
Luiza, 22, estuda ciências sociais no período noturno e mora no Crusp (conjunto residencial da USP). Ela diz ter medo do trajeto diário da faculdade até o alojamento, de cerca de 15 minutos. "Sempre que uma aula começa a demorar, fico preocupada. Depois das 23h é muito perigoso. Então saio com outras pessoas ou me junto a um grupo no caminho."
Ela defende mais iluminação e atividades noturnas, para tornar o campus mais movimentado e "menos hostil".
PRESSÃO
Ex-superintendente de segurança da universidade, a professora de antropologia Ana Lucia Pastore reclama da atuação policial. Ela foi contra a entrada da PM no campus. "Houve uma terrível repressão policial em um [encontro do] Conselho Universitário em março, com bombas de gás lacrimogêneo. Nada justificava essa ação."
Quando o policiamento foi implementado, há dois anos, a PM prometeu que os policiais fixos na USP não fariam interferências no caso de manifestações -outras equipes seriam chamadas de fora, para preservar a relação com os estudantes.
O tenente Telles nega que a PM do campus tenha se envolvido no protesto. "A gente não intervém, só acompanha, até para não quebrar todo esse trabalho de aproximação [com a comunidade acadêmica]", disse.
Além da ação em protestos, alunos dizem que a presença da PM tem o objetivo de coibir o consumo de drogas. "Na última festa eles nos abordaram e fizeram um interrogatório, foi horrível", lembra o estudante de Artes Plásticas, Rodrigo Arruda, 23.
Telles também rechaça. "O nosso objetivo é coibir roubos e furtos, atos ilícitos. Mas, se um aluno for abordado com substância entorpecente, vai ser conduzido até a delegacia de polícia, porque portar determinada quantidade de droga é um crime ainda", diz.
2 ANOS DE POLÍCIA NA USPMapa
'AMIGO DO ALUNO'
Em 2015, uma das promessas do novo modelo era de que o policial seria "amigo do aluno". O PM deveria ter um "perfil próximo ao dos estudantes": ter até 26 anos, formação universitária e se voluntariar para o trabalho na USP. Hoje. porém, a idade média dos PMs no campus é de 28 anos, e o policial mais velho está com 59. Além disso, dois anos depois, muitos estudantes e até PMs afirmam que a amizade é algo muito distante.
"Não temos contato com os alunos. Eles hostilizam a gente, passam toda semana e gritam: 'coxinhas! fascistas!'. Sempre foi assim e sempre vai ser", disse um policial que preferiu não se identificar. Ao seu lado, um colega PM concordava: "Não escolhemos estar aqui, é um castigo ser mandado para cá", afirma.
Já os policiais Eden Campos, 28, e Natália Kronka, 32, relatam experiência diferente. Eles estudaram em universidades e escolheram trabalhar na USP, por ser um local "mais tranquilo". Natália é formada em administração. "Tem amizade com os alunos. Os de humanas são mais críticos, mas a maioria passa e cumprimenta", diz Campos.
O tenente Telles afirma que desconhece casos de PMs que não queiram trabalhar no campus e também de hostilidades entre policiais e alunos. Ele defende ainda que a idade é apenas um dos requisitos, mas não o principal. "Ele precisa ter o perfil comunitário, ser mais comunicativo."
PROMESSAS
Em 2015, o então secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, declarou que colocaria entre 80 e 120 PMs na USP. Segundo Telles, o número foi posteriormente considerado excessivo. "Foi feita uma análise do local e verificamos que de 44 a 50 policiais é mais do que suficiente", afirma.
Muitos funcionários de segurança do campus, porém, dizem que é preciso mais PMs para cobrir a área, equivalente a 470 campos de futebol.
Além disso, a promessa de instalar uma base fixa para a PM ainda não foi cumprida -a previsão de entrega da obra é de 17 de setembro, segundo a USP. Desde que chegou no campus, parte da polícia está alocada em containers na Praça do Relógio.
A USP também havia anunciado, em 2015, que instalaria mais de 600 câmeras de segurança no campus. Hoje são 206. A assessoria da universidade afirmou, por meio de nota, que o projeto para instalar 400 câmeras está em fase de licitação.
O Conselho de Segurança da USP, que também estava previsto desde 2015, ainda não foi criado. Segundo a universidade, a implantação do órgão "está em tramitação nas esferas jurídicas da USP e da Secretaria de Segurança Pública". 

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